Eu acho que uma das coisas mais bonitas que a gente aprende em uma análise é a capacidade de ficar triste.
Saber ficar triste implica em muitas etapas:
se deixar afetar por uma sensação desprazerosa e incômoda,
dar atenção a essa sensação,
analisar se ela combina com as nuances da ou se destoa muito,
interpretar e dar um nome, ainda que provisório para ela,
avaliar se é o caso de consentir com sua chegada no corpo ou não.
essa etapa é muito delicada porque se a gente errar no diagnóstico, e pensar que aquele sentimento não deveria estar ali e aí tentar arrancá-lo do corpo, a gente corre o risco de mandar um pedacinho do corpo junto - pode doer muito, fazer falta, e o pior: não funcionar.
manter a atenção (não a confundindo com obsessão) ao temporizador: é preciso cuidar do tempo que a tristeza fica ali. Se passa do tempo "bom", pasmem!, a gente pode se acostumar demais com ela, se identificar com ela e não deixá-la ir embora sem sequer perceber que somos nós que não a deixamos ir, e não ela que vai.
há, ainda, um adendo sobre o tempo. Precisamos de um tempo - não muito longo - onde a gente não faça nada, exceto se oferecer para que a tristeza se aconchegue em nós (sem jamais nos confundirmos com ela por mais do que 3 segundos). E depois precisamos de um tempo onde sejamos pessoas-tristes-funcionais. Ou seja, que a gente siga a vida, vivendo os outros sentimentos também, mesmo que com ela.
O mais importante de toda essa enumeração e falação minha, é: a gente precisa entender que tristeza não é visita exclusiva. Nossos sentimentos conseguem conviver uns com os outros se a gente não achar que a tristeza precisa de atendimento vip em nosso corpo.
Uma coisa bonita que aprendi em minha análise, e me salva quase todos os dias, é que a tristeza pode ser bonita, se a gente não ficar sozinho tempo demais com ela. Hoje eu coloquei a tristeza para dançar em meu dedo indicador pelo celular e até saiu esse texto - que não achei triste.
Novidades sobre o meu trabalho:
Comecei minhas duas propostas de estudos: o clube de palavras (onde estudamos o tema do amor e da psicanálise pela interlocução com o cinema e com a literatura) e o lendo Freud hoje (o grupo de estudos sobre o livro "Compêndio de psicanálise", do Freud).
A abertura desses trabalhos foi muito importante para mim, pois são as primeiras propostas que faço, em muitos anos, de modo autônomo, sem mediação de instituição, para estudos a prazo médio (vamos até junho). Estou super empolgada e feliz com o pessoal que se reuniu em torno desses meus convites.
Outra novidade, que é também um convite: gravei um curso novo para a casa do saber junto com meu amigo e psicanalista Alexandre Patrício. Chama-se "depressão e vida digital" e tem muito a ver com o texto dessa news. O pessoal da casa vai exibir as 3 aulas que montamos gratuitamente para quem se inscrever. Vai ter espaço para interação depois.
Tem também grupos de whatsapp para acompanhar as novidades desse curso
Beijos, até a próxima ;)
Li o texto e me peguei cantarolando… 🎶
“É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não
Senão é como amar uma mulher só linda
E daí?
Uma mulher tem que ter qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
[…] A tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não”
daí ri e pensei… olha aí a tristeza e o amor e o tempo e a esperança…
Um tema importante em um momento necessário da minha vida. Obrigada ;)